Um tempo para análise

Quanto tempo vai levar para resolver meu problema?
Preciso resolver isso rápido! Não aguento mais!

Estas são falas frequentes, principalmente no início do processo de análise. Expressam urgência, pressa e angústia. É importante considerar que não são exclusivas dos consultórios de psicanálise, já que falam de uma urgência e uma necessidade de satisfação presentes no cotidiano de todos nós. Trabalhamos com prazos cada vez mais curtos, tentando atender uma demanda voraz e insaciável, tudo é “para ontem”. Vivemos correndo e com a sensação de que estamos sempre devendo alguma coisa.

Mas esta urgência também se refere ao fato de que ninguém gosta de sofrer! Há urgência pra se livrar de uma dor, de um desconforto, de uma pressão. Tentar livrar-se de algo que ameaça a vida é um impulso natural de qualquer ser vivo. Neste sentido, associamos a dor psíquica à dor física, e esperamos que sejam tratados do mesmo modo.

Quando estamos doentes, com gripe, por exemplo, sabemos que levaremos em torno de uma semana para melhorar. Ou no caso de uma doença mais grave, temos ao menos uma explicação sobre o mal que nos aflige. Isso nos tranquiliza, pois há uma sensação de mínimo controle sobre a situação. Mas será que quando adoecemos psiquicamente temos como saber quando vamos melhorar?

Se uma febre pode ser uma reação do nosso organismo a uma bactéria, com um sintoma psíquico é diferente.

Se uma febre pode ser uma reação do nosso organismo a uma bactéria, com um sintoma psíquico é diferente. Ele é resultante da interação entre nossas dimensões consciente e inconsciente. O psiquismo é composto por aquilo que temos acesso, como os pensamentos, lembranças, percepções, e que denominamos como o campo da consciência, mas também pelos impulsos reprimidos aos quais não temos acesso, pertencentes ao campo do inconsciente. O sintoma é formado, em algum momento da vida, com o objetivo de nos proteger de algo insuportável para a consciência. Ele é um “acordo” entre as duas dimensões: o conteúdo original fica recalcado no inconsciente, mas aparece na consciência de outra forma. Essa defesa, muitas vezes, é falha, pois alivia aquilo que é sentido como insuportável por um lado, mas pode gerar prejuízos por outro. Comportamentos obsessivos, fobias, dores conversivas, episódios de pânico, são exemplos disso.

A parte mais intrigante disso tudo é que o sintoma psíquico comunica algo que a pessoa não sabe dela mesma, por ela não ter acesso consciente àquilo. Nesse sentido, o sintoma é um problema, mas é também uma porta de acesso para o próprio sujeito. O sintoma tem a ver com a nossa história, de nossa família e de nossa cultura. Para a psicanálise, o sintoma é uma espécie de saída engenhosa do psiquismo da pessoa, para dar um destino àquilo que ele não está conseguindo dizer de outra forma.

Portanto, quando pensamos no tempo da análise, precisamos considerar que existe um trabalho muito específico a ser realizado entre analista e analisando; há que se olhar para o sintoma que foi criado e como ele foi sendo desenvolvido ao longo do tempo, pois isso diz respeito ao funcionamento psíquico específico daquele paciente. Muitas vezes o sintoma é uma verdadeira tábua de salvação para a pessoa e, por isso, é sentido como impossível de ser abandonado. A ideia é que o processo analítico seja uma oportunidade para que aquilo possa ser transformado em outra coisa, que não cause mais tanto sofrimento àquela pessoa.

um processo de análise também depende do desejo do paciente. Até onde ele quer e suporta ir neste percurso

Além disso, há que se considerar que um processo de análise também depende do desejo do paciente. Até onde ele quer e suporta ir neste percurso. Ele pode ir até o ponto em que se livra de um sintoma específico e isso lhe basta; pode querer continuar e avançar em outras questões por considerar a análise um espaço produtivo, assim como ele pode não querer mudar, às vezes inconscientemente; afinal de contas, a psicanálise trabalha com a premissa de que há uma parte de nós a qual não temos acesso direto e que mobiliza nossas ações, inclusive nos paralisando frente a boas oportunidades. Há quem fique em análise por alguns meses, há quem fique por um ano, há quem fique por anos, há quem encerre uma análise e comece outra. Depende de cada um. Depende daquele par: analista e analisando.

Em conclusão, mesmo que o paciente tenha urgência, ele pode intuir que aquele sofrimento, ali presente há tanto tempo, tão arraigado, não se transformará em um ou dois meses, mas que seguramente precisará de um tempo maior. Além do mais, ele vai sentindo os benefícios dessa escuta diferenciada que é a do espaço analítico.

Tempo não é dinheiro, é o tecido de nossa vida
— (Antônio Cândido de Mello e Souza)

Texto produzido por Elabora Psicanálise Acessível.

  

Vivian Sayuri Teixeira da Silva

Vivian é graduada em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Inicia sua formação em Psicanálise no Instituto Sedes Sapientae em 2007. Conclui o curso de aprimoramento - Fundamentos da Psicanálise - no Departamento de Formação em Psicanálise. Atualmente faz o curso de especialização em Psicanálise no Departamento de Psicanálise. 
Sua atuação clínica teve início em 2007. Foi terapeuta estagiária e voluntária na Clinica do Instituto Sedes Sapientae e no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. 
Atende crianças, adolescentes e adultos em seu consultório e é terapeuta do Projeto COMPOR, na Clínica do Instituto Sedes Sapientae. 

Crises de Pânico

Em psicanálise, a experiência do sujeito é única. Cada caso é um caso. Este vídeo aborda um relato de alguém que sofria ataques de pânico e que passou pela experiência de análise.

Vídeo: The School of Life
Tradução/Legendas: Elabora Psicanálise Acessível

Nina Lira

Graduada pela USP e psicanalista pelo Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Foi psicoterapeuta no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo e pesquisadora pela UNIFESP em projeto sobre (Re)configurações das Políticas Nacionais de Saúde, encomendado pelo Ministério da Saúde. Atualmente atende jovens e adultos em consultório particular e é uma das responsáveis pelo dispositivo clínico do Grupo de Acolhimento da Clínica Psicológica do Instituto Sedes. Entre outros trabalhos, traduziu o livro da psicanalista inglesa Meg Harris Williams, pelaKarnac Books Ltda.

"Nossas inquietudes" - documentário traz testemunhos de quem já experimentou a análise.

O documentário “Nossas inquietudes” da Francesa Judith du Pasquier, onde ele aborda o tratamento psicanalítico por intermédio de seis testemunhos de fragmentos da experiência de análise. Seus protagonistas, misto explícito de atores e pessoas reais, com a força de seu relato, nos aproximam vivamente do coração dessa experiência, de seus efeitos na vida de cada um. Abordando questões sobre a angústia que a terapia provoca, o pagamento da analise, das intervenções do analista, o divã, o que levou cada um a buscar a analise e os ganhos que obtiveram.

“A análise é um troço inconcebível. Quando falamos com pessoas que não são, que eventualmente nunca falaram disso, quando dizemos que é possível se estabelecer um laço amoroso entre um cara que lhe ouve e voce, que se deixa, que se joga sobre um divã, é surrealista esse negócio. É incrível. E no entanto é assim que acontece. É como se, nesta experiência amorosa, conseguíssemos captar aquilo que nos faz sofrer.

O grande Tabu: psicanálise é para loucos?

Entrevista gravada com Contardo Calligaris, na Barraca do Saldanha, e exibida no dia 25/04/2009, no programa "Manos e Minas" da TV Cultura. Mais bate-papos interessantes no site do Programa Interferencia.

"Qualquer coisa que começa com psi, que seja psiquiatra, psicólogo ou psicanalista, têm a idéia de que isso é coisa para loucos. Se sentem, de alguma forma, desqualificados pelo fato de ir procurar um profissional desse tipo".

Nanci Shirazawa

Psicanalista e psicóloga (CRP 06/59756) graduada pela Universidade Paulista de São Paulo, com MBA RH pela FIA USP. É especialista em Teoria Psicanalítica pela PUC SP e participou de grupos de estudos sobre Psicanálise. Foi executiva em grandes empresas e, há alguns anos, realizou sua própria transição de carreira. Fez Formação em Psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae, trabalhou na ONG Semear com atendimento a crianças em situação de abrigamento e profissionais de abrigos e foi terapeuta no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Atualmente, é psicanalista, atende adolescentes e adultos em consultório particular, além de psicoterapeuta no projeto COMPOR, na Clínica do Instituto Sedes Sapientiae.